quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O Último Som do Rio

Ele sente o afluente frio
Do rio que lhe corre aos pés
Movendo-se sistematicamente, em marés

Nasceu aqui e nada mais conhece
Se não o movimento padrão do milho ao vento
O eco celeste da voz no prado
Que se propaga ondulante no momento
Da mais comum despedida

Procura nas árvores o sentimento
O medo de perder os ramos da sua criança
Sobre tantos deles se perdeu do tempo
E agora, sobre eles, perde a esperança
De os rever mais uma vez

Talvez dos olhos lhe fuja a mágoa
A melancolia crua ao ver o céu
Chamando as núvens uma a uma
Para que delas leve uma recordação
Um magro pedaço de anjo, no coração

As mãos percorrem os muros
Conhecem-nos desde muito novas
Até os mais pequenos relevos sujos
Sobreviventes à erosão

No fim do seu trilho, inerte
Quebrado pelos vasto adeus
Tocam-se os olhos, em vão
E chama um nome tremendo
O nome do velho cão

Fechou o portão atrás de si
Um dia talvez volte repleto de coragem
Mas sabendo que as memórias se perderam
Que naquele rio, na margem
Jaz esquecida a sua infância

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