quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O Último Som do Rio

Ele sente o afluente frio
Do rio que lhe corre aos pés
Movendo-se sistematicamente, em marés

Nasceu aqui e nada mais conhece
Se não o movimento padrão do milho ao vento
O eco celeste da voz no prado
Que se propaga ondulante no momento
Da mais comum despedida

Procura nas árvores o sentimento
O medo de perder os ramos da sua criança
Sobre tantos deles se perdeu do tempo
E agora, sobre eles, perde a esperança
De os rever mais uma vez

Talvez dos olhos lhe fuja a mágoa
A melancolia crua ao ver o céu
Chamando as núvens uma a uma
Para que delas leve uma recordação
Um magro pedaço de anjo, no coração

As mãos percorrem os muros
Conhecem-nos desde muito novas
Até os mais pequenos relevos sujos
Sobreviventes à erosão

No fim do seu trilho, inerte
Quebrado pelos vasto adeus
Tocam-se os olhos, em vão
E chama um nome tremendo
O nome do velho cão

Fechou o portão atrás de si
Um dia talvez volte repleto de coragem
Mas sabendo que as memórias se perderam
Que naquele rio, na margem
Jaz esquecida a sua infância

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Canto do Lobo

Os lobos vivem separados de suas almas
Como verdadeiros predadores astutos
Que percorrem o campo gelado
Levando da caça os seus lucros

Uivam, rosnando ao céu estrelado
Da fria neve, em matilha*
Ouvindo o eco agregado
Que sara a fresca ferida

Mas no fundo os lobos são seres isolados
Que vivem em conjunto, para não perder
O fio da vida, da sobrevivência
Uma alma gélida em efervescência
Que procura prevalecer

As suas patas carregam um coração de pedra
E um lobo pode nunca encontrar qualquer conforto
Pois este é o canto do navegador solitário
Que rema um barco morto...


*(Um conjunto de lobos é uma alcateia, apenas optei por matilha devido a questões frásicas e de métrica)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Ela foi o Sol, Ele será a Noite

Toda a noite, caminhando
Sobre a sombra da lua
Ele foge do medo
Que se esconde por entre a rua

Sintindo o seu corpo
Magoado e mentiroso
Olha apenas o chão
Escondendo o rosto

Ele sabe apenas a sua história
Um conto, desepero e amargura
Quanto menos se alimenta o fogo
Menos o amor dura

Mas ele sorri de cara pálida
Corroído e caçado
Enquanto o sangue lhe foge
Do coração despedaçado

Sete vezes ela o pisou
Sete, mortal pecado
Ela vive hoje no presente
E ele, para sempre, no passado