terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O Homem Rei

E se não nos sobrasse tempo
Se  nos fugisse o toque aos dedos
Se nos tremessem os pés ao andar

E se os invernos viessem mais frios
Se aumentasse a estrada e os caminhos
Se os dias perdessem o horizonte

E se respirar fosse quase impossível 
Se os rios deixassem de correr firmemente
Se o medo nos cobrisse plenamente

Seriamos o rosto da miséria 
Os filhos pródigos do desespero
Vozes roucas gritando
Sem que uma única mão se estendesse 

Um dia, breve, seremos assim
Esperando, sentados, o nosso fim
Destruindo na esperança de vencer
Até que a vida não saiba mais o que é viver

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Sou Cavaleiro

Eu sou o teu cavaleiro
Aquele que monta nas guerras do Além
Sobre as bandeiras do povo e do rei
Tirando a espada do seu descanso

Vi já corpos nos campos frios
Corpos na água, degradados
Boiando no vazio
Sem luz que os leve a casa
Sem a luz dos seus amados

Sou apenas um mero soldado
Que carrega o seu escudo
Ouvindo o grito da morte
Um grito só e mudo

Tive até nas mãos o sangue
De irmão e inimigo
Aquele que na busca do perigo
Deu os seus últimos passos

Sim, sou apenas um
Porque mais ninguém sobrou
Agora durmo nos teus braços
Nos braços de quem sempre me amou

Errar/Amar

A redenção é possível para quem a entende
Para quem a procura, incessante
Acreditando, veemente
Que a redenção o levante

Mas o que é de facto errar
O que é perder o norte
É lamber o sal do mar
É sentir o vento forte

No entanto, quem ama alcança
Quando a alma tem valor
O amor é o som de uma dança
Quando a dança é amor...

A Pequenez

Serás esquecido no dia em que morreres
Deixando para trás um tempo eterno, vazio
O tempo em que pouco mais fizeste do que respirar
De ti, sobrará apenas um terreno baldio

Pensas que farás grandes obras com a tua pobreza,
De espírito, aquele que trazes ao peito como um peso
Enganas-te, porque nem a anatomia do pensar conheces
E para ti, a vida guarda apenas desprezo

Mas acredito que um dia te vais levantar
Para veres o mundo da tua torre alada
E talvez nessa altura perceberás
Que foste feito para ser menos do que nada

Lixo & Ruído

Afastem-se de mim,
Vocês não pensam, não interessam
E prefiro nem ver-vos a saber que existem

Não compreendo como é possível
Dar vida a tanta podridão
Os vossos pés já nem marcam o chão
E a vossa cara não merece ser lembrada

Por isso não falem, cessem o ruído
Porque a vossa voz é apenas barulho
Uma espécie de entulho
De toda a desordem de que são feitos

Infelizmente, vocês são
Mas para mim é como se não fossem
Como se não estivessem aqui
Neste pequeno espaço que é a Vida
Onde o valor é a coroa que trago na cabeça